A influência do El Niño – fenômeno que eleva as temperaturas do planeta e prejudica as chuvas no Nordeste brasileiro – perde forças e abre espaço para a La Niña, que tem efeitos contrários. Para entender os impactos disso no Ceará ainda é preciso avaliar os próximos meses, mas um dos sinais pode ser a redução do “calorão”.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou, na última semana, que as previsões indicam probabilidade de 50% de o La Niña se instalar entre junho e agosto. A chance aumenta para 60% de julho a setembro e 70% de agosto a novembro.
Contudo, os efeitos podem variar conforme a temperatura oceânica, a duração e a época do ano em que aconteça. Além disso, têm as características de cada lugar. Por exemplo, em serras a temperatura é geralmente mais baixa do que uma cidade de praia.
“Essa tendência indicada pelos modelos mostra que o segundo semestre de 2024 já pode ter a configuração de uma La Niña”, explica Meiry Sakamoto, gerente na Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
Porém, as reclamações sobre as tardes quentes, comuns da segunda metade do ano, vão persistir mesmo com influência da La Niña.
“Aqui no Ceará, vamos lembrar, temos o B-R-Ó-BRÓ: o período que não chove, que a temperatura máxima é mais alta do que em outras épocas do ano. Pode amenizar um pouco, mas é sobre algo muito quente”, frisa Meiry.
No último ano, o Ceará teve cidades com até quase 5°C acima na média de temperatura, picos e focos de calor, acompanhando um movimento global de aquecimento. O El Niño estava relacionado ao aumento dos termômetros.
Em relação ao impacto para o período chuvoso, entre fevereiro e maio, ainda é cedo para determinar um cenário.
“Se isso permanecer, temos condições de La Niña influenciando as chuvas do ano que vem. Não que isso signifique necessariamente boas chuvas para o ano, mas é um padrão melhor de oceano”, detalha a especialista.
A quadra chuvosa cearense foi favorável em 2023 e teve registro 25% acima da média histórica com 764 milímetros observados, sendo a normal de 609 mm.
Com o fim do período chuvoso deste ano, as precipitações dos últimos dias são relacionadas a áreas de instabilidade formadas sobre o oceano e por condições locais como relevo, que contribuem para que, a alta temperatura e a umidade relativa elevada provoquem a formação das nuvens de chuva.
A tendência é de que as chuvas ocorram de forma mais localizada e isolada. “No momento, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) encontra-se localizada no hemisfério Norte, em torno de 7 graus Norte, e, portanto, não tem influenciado a ocorrência de chuvas no Estado”, conclui.
O QUE É A LA NIÑA E O EL NIÑO
Enquanto no fenômeno La Niña acontece o resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, além de mudanças na circulação atmosférica, no El Niño há o aquecimento oceânico. Ambos impactam as temperaturas e os regimes de chuvas em diversas partes do mundo, como o nordeste brasileiro.
O efeito quente aparece, principalmente, no final do ano e esse período acabou dando o nome do fenômeno, como explicou Meiry anteriormente ao Diário do Nordeste. “As primeiras pesquisas sobre esse aquecimento foram justamente em dezembro na época do Natal, e na língua espanhola, tem o menino Jesus ‘El Niño’, que deu o nome”.
Um período depois, notaram o fenômeno de resfriamento da superfície do oceano que ganhou o nome oposto: La Niña. “São águas mais frias do que o normal, pelo menos 0,5°C, para aquela região”, detalha.
As informações são do Diário do Nordeste