No início da década de 1980, a cidade de Milagres, localizada no interior do Ceará, viu nascer uma obra que se tornaria um símbolo de fé, cultura e dedicação. No ponto mais alto da cidade, onde o horizonte se abre para os olhares dos moradores e visitantes, foi construído um grandioso palco de pedra destinado à encenação da Paixão de Cristo. Este palco, denominado de “Calvário”, foi idealizado pelo multifacetado artista Raimundo Hélio Grangeiro Ferreira (1959-1996), um homem cuja vida foi dedicada às artes plásticas, ao teatro, à poesia e à literatura.
Raimundo Hélio, como era conhecido, não apenas concebeu a ideia, mas também dedicou-se intensamente à sua realização. O Calvário foi projetado para ser o cenário dos últimos momentos da vida terrena de Jesus Cristo, retratando sua paixão, morte e ressurreição. A obra, além de seu caráter religioso, tornou-se um monumento artístico e cultural, destacando-se como um dos mais impressionantes palcos ao ar livre do Brasil.
A construção do Calvário não foi tarefa fácil. O terreno onde a obra foi erguida foi cedido pelo ex-prefeito Francisco Gilvan Morais, de saudosa memória na história de Milagres. Com o local definido, a comunidade abraçou a causa, unindo-se em mutirões, campanhas e doações. Homens, mulheres e jovens trabalharam lado a lado, carregando pedras, moldando o cenário e transformando o sonho de Raimundo Hélio em realidade. Foi um esforço coletivo, marcado pelo suor e pela determinação de um povo que acreditava no poder da arte e da fé.
O resultado foi uma obra majestosa, um palco que não apenas serve às encenações da Paixão de Cristo, mas também se tornou um ponto de referência para a cidade. O Calvário de Milagres é mais do que um local de devoção; é um testemunho da capacidade humana de criar, inspirar e unir pessoas em torno de um ideal comum.
Hoje, passadas décadas desde sua construção, o Calvário continua a ser um espaço vivo, onde a história bíblica é recontada ano após ano, emocionando gerações. A obra de Raimundo Hélio Grangeiro Ferreira e o legado de Francisco Gilvan Morais permanecem vivos, não apenas nas pedras que compõem o palco, mas no coração de todos os milagrenses que se orgulham de sua história e de sua cultura. O Calvário de Milagres é, sem dúvida, um marco que transcende o tempo, unindo arte, fé e comunidade em um único monumento.
