No dia 23 de março de 1978, o sonho de três educadoras, dona Zuíla Sampaio, dona Euda Albuquerque e dona Maísa se fez realidade quando as autoridades do estado do Ceará se sensibilizaram diante dos apelos dessas três mulheres para fundar no município de Milagres uma escola pública que acolhesse e educasse os filhos dos trabalhadores pobres do nosso município.
De lá prá cá, já são 46 anos de muita luta e desafios. Ao longo dessas quatro décadas e meia a Escola Dona Antônia Lindalva de Morais se tornou uma das principais instituições de ensino do Ceará ao cumprir sua missão de educar e formar cidadão, dando aos milhares de filhos desses trabalhadores oportunidades para se fazerem homens e mulheres capazes de intervir ativamente nos rumos da nossa sociedade através de sua ação política e de seu trabalho.
Desde a sua fundação a Escola Dona Antônia Lindalva de Morais foi gerida por mulheres, essas educadoras assumiram um papel político e por meio de sua práxis democrática regeram com afeto e dedicação o papel que lhes foi incumbido pela comunidade escolar. Atuaram como verdadeiras mestras instruindo para o saber e orientando para a conquista de direitos e fortalecimento da democracia e da cidadania em nosso país e na nossa cidade de Milagres.
Em 2013, a professora Ana Maria Nunes da Silva assumiu a gestão da Escola Dona Antônia Lindalva de Morais após ser eleita democraticamente em pleito concorrido com dois outros candidatos. Há uma década esta educadora está gerindo a comunidade escolar de nosso querido “estadual”. Esta gestão é feita dentro do mais democrático e transparente processo administrativo. Sua ação política volta-se essencialmente para garantir aos estudantes a maior qualidade possível de aprendizagem e acolhimento afetuoso dentro do espaço escolar.
Desde julho de 2013 assistimos a professora Ana Maria Nunes da Silva dedicar parte de sua vida para garantir aos filhos de outras mães um futuro de segurança econômica, política e moral. Sua ação pedagógica dentro da Escola Dona Antônia Lindalva de Morais procura criar nesta comunidade escolar o respeito às diferenças, a aceitação às pluralidades de ideias, credos, opiniões e formas de expressão da democracia com a garantia do direito de todos a gozarem de suas prerrogativas cidadãs.
A educadora Ana Maria Nunes da Silva atuou desde os seus primeiros dias como diretora da Escola Dona Antônia Lindalva de Morais como a mulher de lutas que sempre foi. Defendeu sempre as minorias, os trabalhadores, as mulheres em geral e especialmente aquelas que estão em situação de violência e vulnerabilidade social, como também a igualdade de gênero, o fim do preconceito e do racismo.
Sua gestão sempre acolheu pautas antirracistas, de denúncia e combate a misoginia, feminicídio, todo tipo de violência física, moral ou psicológica. Todos os docentes e discentes que ao longo desses últimos dez anos passaram pelo espaço da Escola Dona Antônia Lindalva de Morais testemunharam os desafios enfrentados por esta unidade escolar. Problemas tais como o de se manter funcionando sem recursos suficientes para garantir as necessidades básicas dos estudantes e professores.
Como todos sabemos a educação pública brasileira vive de migalhas, esperando que os governos se sensibilizem e criem políticas de financiamento das escolas. Infelizmente muitas dessas políticas naufragam ou não atingem todas as unidades de ensino da rede pública. Mas isto não impediu a gestora da Escola Dona Antônia Lindalva de Morais ir à luta em busca de melhorias para esta unidade escolar. Infelizmente ainda há muito descaso com a estrutura e qualidade da educação nas escolas em tempo integral ou regulares no Ceará, pois o atual sistema de educação cearense foi feito para criar um abismo entre os estudantes que frequentam o ensino profissionalizante e as demais escolas públicas do estado.
Em Milagres esse abismo foi cavado ainda mais fundo pela comunidade em geral, pois criou-se um verdadeiro preconceito contra os funcionários, educadores e estudantes da Escola Dona Antônia Lindalva de Morais. Há na população em geral opiniões depreciativas sobre nossa comunidade escolar, essas opiniões infelizmente foram difundidas por pessoas de mau caráter e pessimamente mal intencionadas. São indivíduos ressentidos e que desconhecem o incansável trabalho da professora Ana Maria Nunes da Silva e de todo o corpo docente e de funcionários da escola “Estadual” para proporcionar aos filhos de trabalhadores pobres uma educação de qualidade com afeto e acolhimento mesmo sem o devido investimento e financiamento necessário para manter funcionando uma escola que acolhe em torno de 600 alunos durante 09 horas diárias.
Como toda comunidade escolar e espaço onde se reúnem pessoas, reconhecemos os inúmeros problemas que temos que administrar diariamente, pois nenhuma escola pública ou privada está isenta de ter dificuldades pedagógicas ou de outra natureza, mas afirmamos veementemente que em nenhum momento a professora Ana Maria Nunes da Silva, as coordenadoras escolares ou o corpo docente da instituição E.E.M.T.I. Dona Antônia Lindalva de Morais deixou de buscar a solução dialogada para os problemas de qualquer ordem que foram apresentados por pais e alunos. Afirmamos que nossa escola é um lugar de garantia da educação, de proteção, de criação de valores democráticos, de promoção da cidadania e de enfrentamento da violência em todos os sentidos e que para alcançar nosso objetivo maior que é formar o cidadão pleno tratamos todos com o devido respeito acolhimento e afeto.
A comunidade da Escola Dona Antônia Lindalva de Morais e em especial os professores, professoras, funcionários em geral repudiam toda e qualquer opinião negativa que deponha contra nossa história e práticas democráticas bem como qualquer ataque ao núcleo gestor dessa instituição representado pela professora Ana Maria Nunes da Silva, mulher negra de lutas.
Por Carlos César Pereira de Sousa